Silencioso,
O homem de roupa amarela
Caminha pelas ruas
De barro e pedras.
Faz todos os dias o mesmo caminho
E senta de frente para o mar
A espera de uma mensagem.
Para salvá-lo.
Um cachorro e um gato
Sentam-se a seu lado.
A noite chega, a mensagem não.
Hoje não volta para casa.
Compadecida lhe empresto um abajur.
Generosa abraço seu corpo
E canto em seu ouvido uma canção.
Tiro sua roupa
Descalço de seus pés velhos sapatos
Beijo lhe o rosto.
Os lábios.
Afaga, cauteloso, meus cabelos.
“Se transforme em meu sonho”
Sussurra para meus olhos.
Viro, como por milagre,
Movida talvez pela ternura,
Em uma garrafa.
De vidro verde. Verde escuro.
Com os dentes estragados,
Morde a boca
não conseguindo tirar a rolha.
A magia se desfaz.