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Cida Pedrosa




Entrevista transcrita de áudio:

Oi pessoal, bacana desse espaço, Só Uma Sugestão. Eu sou Cida Pedrosa, escritora e tô aqui pra falar um pouquinho.



1. Nestes últimos anos, o que mudou no seu processo de criação?

Bom, eu sou escritora desde muito cedo, né? Eu escrevo desde os quatorze anos. Quer dizer, eu escrevo antes disso, mas eu comecei a me sentir que poderia ser poeta ali pelos quatorze, quinze anos, quando eu encontrei um grupo de escritores no meu colégio ali no ensino médio.

Então, eu tenho um processo criativo muito diferente. Eu não sou aqueles escritores que escrevem todos os dias. Eu tenho duas formas de escrever: Eu tenho um momento que é aquele momento que dá o estalo e eu vou lá e anoto e depois isso vira um poema, às vezes sai um poema de uma vez só, que é o que alguns chamam insight.

Eu tenho isso, mas também tenho aquela história de você escrever mediante um projeto. Decidir escrever sobre determinada coisa, sentar e escrever. Não é que nesse outro processo não tenha insight, claro que tem. Mas você escreve de forma mais sistêmica.


2. Fale de seus cursos e projetos. E do último livro.

Foi assim que eu escrevi meu livro Olhares Sobre Lilith., que eu queria escrever o abecedário feminista a partir de o abecedário de A a Z com nome de mulheres. Eu decidi isso e fui escrevendo os temas de cada poema que eu queria realizar, queria tratar num poema sobre feminicídio, no outro sobre a opressão das mulheres negras, no outro sobre o corte de clipe de mulheres. Então assim, foi uma coisa pensada. Eu queria escrever sobre isso.

De uma certa forma, o meu último livro Araras Vermelhas, também. Eu queria escrever sobre a guerrilha do Araguaia, mas esse juntou muito tanto a decisão como um grande insight, o que às vezes a gente chama de vômito porque foram vinte e um dias de escrita ininterruptos onde eu dormi três, quatro horas por noite dedicada a escrita desse livro que é um longo poema sobre a guerrilha do Araguaia, que é este momento onde jovens na grande maioria do PCdoB enfrentaram uma Ditadura Militar em mil novecentos e sessenta e quatro e foram presos, torturados, exterminados e desaparecidos.

Então eu escrevo das duas formas. Tanto na forma do insight, daquela coisa que rompe o cotidiano e eu vou lá e escrevo na agenda, hoje em dia também no celular. Como também de pensar um projeto literário e escrever sobre ele. Meu maior problema é tempo. Eu tenho pouco tempo para escrita, aí eu espero a aposentadoria formal não, a aposentadoria real, pra poder ter mais tempo pra escrever.


3. Que obras literárias publicadas nos últimos dois anos você considera imprescindível a leitura?

Eu tenho muitas formas de me ..,

Eu primeiro quero dizer que eu sou uma pessoa que me deixo atravessar por outros artistas, eu sou uma esponja, sempre me deixei atravessar, tô sempre aberta para o novo, mas ali na minha formação eu acho que teve algumas criaturas que foram fundamentais. Primeiro eu sou muito formada pelo cordel, pela literatura oral. Talvez por isso minha literatura tenha tanta musicalidade porque a literatura me chegou primeiro quase como música, porque o cordel é muito musical, né? A cantoria é música. Então assim, isso é muito forte na minha vida. E do ponto de vista da literatura mais tradicional do livro eu me deixei transpassar, atravessar por Ferreira Goulart. Acho que Poema Sujo, é um grande exemplo de atravessamento na minha vida. Eu fui muito atravessada por Adélia Prado. Eu fui muito atravessada por Carlos Drummond de Andrade e tenho hoje em dia deixado me atravessar pela juventude assim, eu não sou uma pessoa que que deixo de ler a turma jovem, eu leio muito quem está escrevendo porque eu preciso entender como é que as palavras estão se movendo no mundo que eu vivo, principalmente a partir do olhar da juventude. E eu sou uma esponja, me deixo atravessar, me acolher para dentro da palavra e estou o tempo inteiro perseguindo fazer coisas diferentes porque isso me instiga. Eu não consigo ficar na zona de conforto. Aprendi determinado estilo de escrever e fico ali até morrer. Não, eu vou me metendo em novas searas porque isso me faz bem.


4. Você daria uma nova sugestão aos novos autores?

Pode parecer batido, sabe? Mas eu sempre digo pros escritores iniciantes algumas coisas assim: consuma cultura, consuma literatura, mas não só literatura, porque a gente não só é influenciado e aprende a escrever só com literatura. Consuma cinema, consuma artes visuais, consuma música. Consumir arte nos aproxima e muito, do saber cultural e da construção literária. E uma outra coisa é,

mostre, mostre pra pessoas que são bacanas, que vão ser honestas com você, nem vão lhe destruir, também não vão lhe endeusar. Que vão ser capazes de dizer pra ti, ó, melhora isso aqui, muda essa palavra por essa, que tal tu ler Fulano? Que tal tu fazer isso? Porque acho que uma das melhores coisas que eu fiz na vida foi ter coragem de rasgar texto, de sair de casa achando que tinha feito o melhor poema da vida, botar numa roda e as pessoas disserem, olha, isso não é tão bom não, viu? Acho que isso aqui, fulano já escreveu parecido com isso. E você ter a coragem e a tranquilidade de dizer: é verdade. Isso aqui não é muito bacana não. E ter a coragem de rasgar e começar tudo de novo. E também de ter a coragem de quando ter escrito algo bacana e achar que é bacana brigar pelo o seu texto, dizer: não, isso aqui é bom e eu acho que é bom por isso, por isso, por isso. Agora você só consegue fazer esse trabalho de ter coragem de rasgar, dizer que achar que é ruim mesmo e dizer que é bom, se você tem referência. Se você não tem referência você vai ficar na situação do que a gente chama de egolombra. Eu sou ótimo e pronto e não mexo e aí você pode realmente ser genial e não pôr ou não e tá enganado, né? Então eu acho que escutar, ouvir é a melhor coisa do mundo porque a literatura é uma arte muito solitária. Você constrói muito solitariamente ela só se completa quando ela encontra o leitor. E você tem que ouvir o leitor.


Maria Aparecida Pedrosa Bezerra (Bodocó, 18 de outubro de 1963) é uma poetisa, advogada e política brasileira. Em 2020, foi eleita vereadora do Recife pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). É autora do livro Solo para Vialejo, vencedor do Prêmio Jabuti 2020 nas categorias Livro do Ano e Livro de Poesia e do livro Araras Vermelhas, Melhor Livro de Poesia de 2022, pelo Prêmio APCA.

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