Ieda de Oliveira é escritora e compositora.
É Pós-Doutora em Análise do Discurso (Université Paris XIII), Doutora em Literaturas Comparadas (USP), Mestre em Letras (PUC/RJ) e Especialista em Literatura Infantil e Juvenil (UFRJ). Tem mais de trinta livros publicados, entre eles “As cores da escravidão”, ed. FTD. Por sua obra recebeu, entre outros, o Prêmio Adolfo Aizen de Literatura Infantil, o Prêmio José Guilherme Merquior de Critica Literária, foi finalista o, do Prêmio Jabuti de Literatura Juvenil, do Prix Espace Enfants, na Suiça, tendo sido selecionada para o catálogo White Ravens, onde estão os melhores autores infantis e juvenis do mundo. Por várias vezes recebeu o ALTAMENTE RECOMENDÁVEL da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ)
Instagram: @iedadeoliveiraoficial
Como você escreve, falando de seu processo de criação;
Sou uma pessoa observadora e inquieta. Começo a escrever mentalmente
quando algo me chama atenção de forma especial. Uma cena de rua, um
documento, uma notícia, uma fala, um olhar, um som... começo a redigir um
esboço mental e, às vezes, me estendo a detalhes narrativos. Anoto no celular (se
estiver na rua) e depois no computador. Registro a ideia, delineando algumas
bases para retomá-la depois. Esse "depois" seguramente entrará na fila de
espera.
Pesquiso muito sobre o assunto a cujo respeito desejo escrever. Nesse caminho,
surgem muitas ideias também. Essa pesquisa envolve todo tipo de informação
que consiga obter em livros, pesquisas acadêmicas, documentos, notícias...
Geralmente, visito lugares relacionados à pesquisa, e isso envolve, às vezes,
viagens.
Minha rotina é complicada e muitas vezes ocorre de eu não poder e, às vezes,
também não estar motivada o suficiente para escrever naquele dia. Preciso de
silêncio e quietude para escrever. Não gosto de ter ninguém por perto. Preciso
estar livre para rir com os personagens, chorar, sentir raiva; enfim, preciso de
liberdade absoluta para viver essa alquimia.
Tenho um plano de escrita que procuro seguir, mas pode acontecer de ser
surpreendida por um rumo que não planejava. Nesse caso, não ofereço
resistência e sigo o fluxo. Não me preocupo com revisão nesta fase.
Por ter formação em Letras, a construção do texto, do ponto de vista técnico e
estrutural, é facilitada.
2. Que obras literárias influenciaram sua carreira, sua vida;
Diversas obras literárias influenciaram minha carreira e vida. A primeira delas,
na infância, foi "As Mil e Uma Noites", que me transportou para mundos
imaginários e me tornou prisioneira das histórias de Sherazade.
A partir daí, os livros foram chegando, alimentando cada vez mais a minha
fantasia. Na adolescência, fui apresentada à obra de Fernando Pessoa, que me
encantou intensamente, principalmente por meio do heterônimo Alberto Caeiro.
Machado de Assis exerceu uma influência fortíssima, não apenas com romances
como "Dom Casmurro" e "Quincas Borba", mas também com os contos, inclusive os da fase romântica, como "Contos Fluminenses". Outras obras importantes para mim foram "Vidas Secas" de Graciliano Ramos e "Grande Sertão: Veredas" e "Primeiras Estórias" de Guimarães Rosa. Clarice Lispector também me marcou profundamente. E isso sem mencionar os autores estrangeiros...
3. Só uma sugestão que você daria aos escritores iniciantes;
Tenham paciência. A ansiedade não combina com a escrita. A construção de um
texto demanda horas de trabalho, leitura e releituras. Nunca acredite na
sensação de que ao terminar uma história ela é uma obra-prima. A chance disso
acontecer é quase zero. Guarde o texto. Dê um tempo a si mesmo e a ele. Depois, retorne e veja o que acha. Esteja sempre desconfiado. Não tenha pressa em publicar.
Mantenha-se atualizado. Leia autores nacionais e estrangeiros, clássicos e
contemporâneos. Leia críticas literárias, resenhas, etc.
Clubes de leitura são espaços eficientes para debates e enriquecimento cultural.