1. Como você escreve, falando do seu processo de criação?
Não consigo ter uma rotina de escrita, por isso acho que tudo se dá de
modo um pouco caótico. Em geral escrevo a partir do fragmento de uma
ideia, uma imagem ou uma frase, a partir de então vou escrevendo e
reescrevendo um possível início que pode evoluir para um projeto ao
qual vou me dedicar ou não, sendo, então, uma ideia descartada. Mas
guardo tudo o que escrevo, mesmo o que não funcionou, pois sempre
acho que pode ser aproveitado em outro texto. Nesta escrita e reescrita
inicial vou testando tempo verbal, voz narrativa, traços dos personagens.
Percebo que este momento inicial é mais hesitante e sequer se organiza
como uma escrita diária. Só quando tenho melhor definido esses
elementos passo a me dedicar ao texto de um modo intenso. Ainda
assim as exigências do dia a dia atropelam a escritora, e por mais febril
que esteja a minha escrita ela vai se dando nos intervalos de meus
vários compromissos.
2. Que obras literárias influenciaram sua carreira, sua vida?
Muitos livros influenciaram a minha escrita, nem todos conhecidos. Isso
porque sempre li interessada em entender como um texto é construído.
Mas posso dizer que o meu encanto pela obra de Kafka me faz
perseguir um tipo específico de escrita nos meus textos. Conceição
Evaristo e Bernardo Kucinski tiveram influência direta no meu romance
Vozes de Retratos Íntimos, com Ponciá Vicêncio e K – relato de uma
busca., respectivamente. E em meu romance mais recente, Uma chance
de continuarmos assim, há um intenso diálogo com as obras da escritora
americana Octavia Butler, sendo também uma homenagem a ela.
3. Só uma sugestão que você daria aos escritores iniciantes.
Leiam! Leiam muito e de tudo. Não se apeguem a qualquer tipo de
preconceito. Leiam obras escritas por mulheres, negros, indígenas,
LGBTQIA+ - autores que só recentemente começaram a encontrar
entrada no mercado editorial –, mas leiam os clássicos também. Leiam
os diversos gêneros literários. É com a leitura que a gente vai
aprendendo a contar histórias, a conhecer os recursos da escrita, as
diversas saídas criativas dos mais diferentes autores. Eu participei de
oficinas de escrita, e de algum modo elas foram importantes na minha
trajetória, mas considero que a contribuição fundamental para a minha
escrita foi e é o fato de eu ser leitora.
Taiasmin Ohnmacht, é escritora e psicanalista. Participou da organização do E-BOOK, Da Vida Que Resiste – Vivências de Psicólogas (os) Entre a Ditadura e a Democracia (CRP/RS, 2014). Em 2016 publicou o livro Ela Conta Ele Canta (Cidadela), em parceria com o poeta Carlos Alberto Soares. Foi relacionada no catálogo Intelectuais Negras Visíveis (Malê, 2017), lançado na FLIP. Em 2019 Lançou a novela Visite o Decorado (Figura de Linguagem). Publicou textos nas antologias FakeFiction (Dublinense, 2020), Contos de Psicanálise (Diadorim, 2020), Travessias de Amanaã (Libretos, 2021). Em 2021, publicou o romance Vozes de Retratos íntimos (Taverna), romance que em 2022 foi vencedor na categoria Narrativa Longa, do prêmio AGES e do prêmio Açorianos de Literatura. Finalista nos prêmios Jabuti, São Paulo de Literatura e Academia Rio-grandense de Letras. Em 2023 publicou Uma Chance de Continuarmos Assim (Diadorim).