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Foto: Genievene Andretto
1. Nestes últimos anos, o que mudou no seu processo de criação?
Nos últimos anos, houve uma grande evolução no meu processo criativo. A escrita de "Nascida para o Trono" e "Fim do Império" foi como aprender a dirigir um novo tipo de veículo que, até então, eu não tinha habilitação. Este livro e este quadrinho de fantasia, ambientados em um mundo inspirado nas culturas africanas, me fizeram explorar profundamente a complexidade dos personagens e cenários. Com isso, abordei temas nas obras que nunca havia falado, como o uso abusivo de drogas, abuso religioso e questões de gênero, mas acredito que o escritor deve sempre se desafiar e ir em frente!
2. Que obras literárias publicadas nos últimos dois anos você considera imprescindível a leitura?
Dentro das leituras que me abriram novas perspectivas, a obra "Filhos de sangue e ossos" de Tomi Adeyemi, uma escritora norte-americana com raízes nigerianas, foi um divisor de águas. A origem da ideia por trás do livro dela é fascinante. Acreditem ou não, foi uma viagem ao Brasil, mais especificamente à Bahia, que inspirou a criação de um mundo onde os orixás são os deuses. Outras leituras poderosas foram "A deusa no labirinto" de Karen Soarele, e "A flecha de fogo" do Leonel Caldela, este último um verdadeiro mestre na arte de contar histórias épicas. "Céu entre mundos" de Sandra Menezes também se mostrou crucial na construção do ambiente para as minhas próprias narrativas. E para não dizer que só fui influenciado por livros, o quadrinho "Djeliya - Uma Fantasia Épica Africana" do Juni Ba ofereceu uma rica tapeçaria cultural que se alinhou perfeitamente com o que eu procurava em termos de imaginário. Ah, e não posso esquecer do documentário "Rainhas Africanas: Njinga" disponível na Netflix, que foi uma verdadeira aula de história.
3. Fale de seus cursos e projetos. E do último livro.
Meus cursos e projetos estão cada vez mais focados em tornar a escrita criativa acessível. Com base na experiência de escrever "Nascida para o Trono" e "Fim do Império", estou trabalhando em cursos que ajudam escritores a escreverem obras que encantam e a construir mundos convincentes e personagens multidimensionais. Pode parecer que não, mas meus cursos e livros estão interligados de certa forma. Por exemplo, se lerem futuramente "Nascida para o trono", verão que o livro é divido em 4 partes simétricas. Ora, a primeira parte corresponde ao Primeiro Ato da Estrutura de Três Atos; a segunda e terceira, ao Segundo Ato; e a quarta, ao Terceiro Ato. Estou demonstrando no livro, na prática, o que ensino na teoria. Portanto, recomendo que conheçam meu curso Caminho Do Escritor, assim como meus recentes lançamentos, os livro "Nascida para o trono" e o quadrinho "Fim do Império".
4. Você daria uma nova sugestão aos novos autores?
Se eu pudesse dar uma dica de ouro para novos autores, diria: considere seriamente ter "leitores-sensíveis". Quando decidi abordar questões de gênero nas quais não sou um expert — sim, eu, um homem branco e supostamente hétero —, optei por contratar alguém mais vivenciado nesses temas. E vou te contar, foi uma decisão acertadíssima. Ele fez observações pontuais que elevaram o nível da obra. Por exemplo, apontou que faltava um catalisador para uma das personagens dar aquele passo corajoso de se revelar ao mundo, ou como dizem pejorativamente, "sair do armário". Isso me inspirou a repensar o papel de um personagem secundário, tornando-o essencial para a evolução da trama.
Vilto Reis é autor dos livros “Nascida para o trono”, “Fim do império” e “Um gato chamado Borges”, este último finalista do Prêmio SESC 2015, e tem contos publicados em diversas antologias e revistas online.
Fundou o portal literário Homo Literatus e esteve à frente do site por mais de 7 anos, além de ter liderado outros projetos como a Editora Nocaute e a Revista Pulp Fiction.
Atualmente, apresenta o podcast 30:MIN, mantém um canal no Youtube, ministra oficinas e cursos, realiza leituras críticas e oferece mentoria para escritores.